terça-feira, 5 de julho de 2011

A obesidade é obstáculo à inserção do trabalhador no mercado


Esta semana (dia 03/07/2011) o Fantástico exibiu uma reportagem a respeito de denúncias de abuso sexual praticado pelo médico Benedito Calixto durante a realização de exames admissionais em Peruíbe, no litoral paulista. (Link para o vídeo da reportagem: http://www.youtube.com/watch?v=n47A0y6Qh2E).

O exame admissional tem o objetivo de aferir o estado de saúde das pessoas que já foram selecionadas pelas empresas por meio de processos seletivos. Não deve ser um exame aprofundado nem invasivo. Não deve servir para coagir ou discriminar o candidato.

O exame serve para que sejam identificados eventuais problemas de saúde que prejudicariam o trabalho daquele colaborador e para evitar que seja alegado, no futuro, que o trabalho na empresa deu origem a doenças que, de fato, já existiam na época da contratação.

Há inúmeros relatos de mulheres que foram vítimas de abuso sexual e constrangimento em exames de rotina e admissionais. Todavia, não são apenas as mulheres que sofrem com as práticas abusivas exercidas nestes exames. Tenho recebido relatos de práticas abusivas contra obesos em exames admissionais, principalmente por parte de trabalhadores das áreas operacional e técnica, funções que geralmente exigem maior movimento do corpo.

De acordo com estas pessoas, o médico, ao se deparar com um candidato obeso, começa a fazer uma série de perguntas – e a duvidar das respostas. Tais perguntas referem-se ao nível de açúcar e colesterol no sangue, capacidade e resistência para trabalhos manuais, dentre outros. No exame físico, ocorrem exames detalhados nas pernas em busca de varizes e geralmente são exigidos exames complementares antes do aval do médico à contratação do funcionário. Não raras vezes são exigidas radiografias dos joelhos e da bacia, além de eletrocardiogramas.

Tais exames adicionais devem ser feitos às custas do candidato obeso, pois, se os custos forem repassados à empresa, a probabilidade do trabalhador ser contratado é ainda menor. Várias pesquisas já demonstraram que pessoas obesas tem maior dificuldade para inserirem-se no mercado de trabalho, mesmo apresentando a qualificação e a experiência exigidas. (http://noticias.r7.com/videos/pesquisa-mostra-que-obesos-tem-mais-dificuldade-para-conseguir-emprego/idmedia/16d2eeeee35ec22512e1e1d226e226c5.html)

O trabalhador obeso, quando contratado, depara-se com outras dificuldades, tais como a inexistência de uniformes para o seu tamanho, o desconforto no posto de trabalho e o preconceito de gestores e colegas, dentre outros. Geralmente a pessoa obesa é tachada de preguiçosa, lerda, molenga e incapaz para executar trabalhos manuais.

Trata-se de um problema sério, pois as empresas queixam-se da falta de mão de obra nos setores operacional e técnico, principalmente na construção civil; enquanto isso, segundo o IBGE (dados divulgados em 2010) 50% dos homens e 48% das mulheres brasileiras apresentam obesidade ou sobrepeso. Ou seja: embora sobrem vagas, há muitas pessoas obesas que são impedidas de voltarem ao mercado de trabalho.

Se o obeso procura ajuda médica e tenta afastar-se do trabalho, recebendo o benefício de auxílio-doença do INSS, a discriminação e o preconceito assumem suas facetas mais perversas: dificilmente o obeso consegue o afastamento, sendo vítima até de piadas por parte dos peritos do INSS.

O obeso encontra-se em uma situação complicada: é discriminado pelas empresas que não o contratam e também não consegue receber o benefício previdenciário a que tem direito para que possa tratar de sua doença.

Enquanto enfrenta esta situação sozinho, é visto com maus olhos pela sociedade em geral e até por familiares: as pessoas duvidam de sua força de vontade e de seu caráter, acreditam que a pessoa está obesa “porque quer”, porque “não pega no pesado”, porque não freqüenta uma academia, porque "só sabe comer", porque não sabe se controlar, etc.

A obesidade é um grave problema de saúde e não tem sido enfrentada de forma apropriada pelas políticas públicas de saúde. Trata-se de uma doença cujas conseqüências matam mais que o câncer e outras causas externas (homicídios, acidentes, etc.) somados (http://portal.saude.gov.br/portal/saude/visualizar_texto.cfm?idtxt=24421). Qualquer pessoa em sã consciência não quer caminhar a passos largos para a morte e muitas pessoas não são obesas simplesmente porque querem ser assim.

O descaso e o preconceito agravam o problema, gerando desestímulo e estresse. Muitos compensam isso na alimentação e reiniciam o círculo vicioso.

Porém, o que esperar de um Governo que nega o gritante problema das drogas, que faz vista grossa à gritante massa de zumbis do crack que circulam em todas as cidades brasileiras? Não podemos esperar grande coisa além da negação e do faz-de-conta... (http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/dilma-resolveu-o-problema-do-crack-em-cinco-meses-governo-decreta-que-o-problema-nao-existe-e-uma-%E2%80%9Cgrande-bobagem%E2%80%9D/)

Se o Governo Federal é capaz de chamar o grave problema do crack de “uma grande bobagem”, não me atrevo a imaginar o nome que dariam ao grave problema da obesidade...

Creio que cada pessoa deve assumir a responsabilidade pela sua própria vida e procurar fazer as mudanças necessárias para melhorar sua saúde, ter melhor qualidade de vida e, de quebra, melhorar sua empregabilidade. Nossas leis protegem o negro, o índio, o deficiente, o idoso e o homossexual. Porém, fazem vista grossa para os obesos – logo os que poderiam ser vistos com maior facilidade – afinal de contas, são maiores que os outros, não são?

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